Geólogo descobre vulcão que existiu no Paraná há 134 milhões de anos e que jogava lava à altura superior a três torres Eiffel empilhadas


O geólogo e pesquisador Marcell Leonard Besser, do Serviço Geológico do Brasil, encontrou rochas milenares raras, chamadas piroclásticas, que possibilitaram a descoberta de um vulcão que existiu no Paraná há 134 milhões de anos. A estrutura geológica foi nomeada "Tapalam".

As rochas estavam em uma região de mina em Marilândia do Sul, cidade da região norte do Paraná com 8,6 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os resultados da pesquisa, desenvolvida ao longo dos últimos quatro anos, foram publicados há um mês na revista acadêmica "Bulletin of Volcanology", fundada em 1922 e uma das mais conceituadas na área.

De acordo com o pesquisador, a descoberta das rochas, formadas a partir do magma do vulcão, revela informações valiosas sobre a história do planeta.

Além disso, segundo Besser, o vulcão era capaz de lançar jatos de lava há mais de um quilômetro de altura em direção ao céu, distância superior a três torres Eiffel empilhadas.

Hoje, quem visitar a área onde o vulcão existiu vai encontrará uma mineradora que produz britas para construção civil.

Em dezembro, um vulcão entrou em erupção na península de Reykjanes, na Islândia. Os jatos de lava atingiram 400 metros de altura.

De acordo com Besser, o vulcão Tapalam, de Marilândia do Sul, é semelhante ao islandês, porém, em uma escala muito maior.

As rochas piroclásticas encontradas permitem o entendimento de que os jatos de lava lançados pelo Tapalam alcançavam mais de um quilômetro de altura, mais do que o dobro dos jatos do vulcão em Reykjanes.

Pelos cálculos dos pesquisadores, os jatos de Tapalam eram mais altos, inclusive, do que o maior prédio do planeta, o Burj Khalifa, com 828 metros de altura, localizado em Dubai.

Os pesquisadores chegaram à conclusão da altura dos jatos do Tapalam a partir do formato que os "cacos" de lava que se solidificaram.

"A forma deles nos indica como foi essa erupção. Alguns, por exemplo, são como halteres de academia, ou como se fosse um pano torcido, outros tem a forma de lágrimas de gotas, outros tem a forma de cabelos, como se fosse o cabelo fininho, minúsculo, minúsculo, que é levado pelo vento."

"Então são as dicas de como a gente consegue reconstruir o vulcão e também o tipo do vidro vulcânico", explica.

Conforme o geólogo, as rochas localizadas nunca tinham sido achadas na região, chamada no meio científico de província geológica Paraná-Etendeka. A descoberta do primeiro exemplar foi em dezembro de 2019.

O território alcançado pela província, explica Besser, está o centro-sul do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e um pedaço do país africano Namíbia.

A formação destas áreas que conhecemos hoje, segundo a pesquisa, tiveram influência das erupções do Tapalam.

O pesquisador Besser explicou que a área que o vulcão estava foi criada durante a existência da Pangeia, quando todos os continentes do planeta ainda formavam apenas um bloco de terra.

"O Brasil tem oito milhões de quilômetros quadrados, mais ou menos. É como se fosse um oitavo do Brasil só desse vulcão", exemplifica.

As rochas piroclásticas, explica o pesquisador, são formadas a partir de explosões de vapor vulcânico. Elas também são chamadas de "tufos vulcânicos". No caso do Tapalam, conforme o pesquisador, a dificuldade de encontrar rochas piroclásticas ocorre por conta da própria magnitude que o vulcão tinha.

"Os pesquisadores procuram, mas elas não são fáceis de encontrar. Nesse vulcanismo, que ocorreu na Era dos Dinossauros, foi muito grande esses derrames de lava. Esses rios de lava eram muito gigantescos. Eles mesmos destruíam os vulcões que estavam sendo construídos. Então é um cenário catastrófico", explica Besser.

A descoberta pode trazer ao público a preocupação de se o vulcão Tapalam, com toda a magnitude registrada, pode voltar à ativa.

Porém, Marcell Leonard Besser garante que qualquer atividade do vulcão é improvável.

Além de possibilitar o entendimento da formação de grande parte do território brasileiro, a descoberta reforça a importância do mapeamento geológico.

Segundo o pesquisador, é a partir deste trabalho que se conhece a geologia do território nacional, sabendo onde estão os minérios e água potável subterrânea, por exemplo.

Com isso, é possível traçar estratégias que levam em conta atividades de exploração econômica e de preservação.

As rochas piroclásticas, resultantes do Tapalam, por exemplo, foram encontradas em uma mina de Marilândia do Sul que produz britas para construção civil. Porém, explica o pesquisador, a rocha não é adequada para mineração.

"Essa camada que a gente encontrou é uma camada que não presta para mineração, porque ela é o tufo. Essa rocha piroclástica é cheia de caquinho, se você fizer uma brita daquilo ali não vai funcionar. Ela logo vai cair tudo. Entretanto, os derrames vulcânicos, esses antigos corpos de lava do vulcão Tapalam ali em volta, estavam sendo minerados", reforça.

Com a descoberta, novas perguntas surgem e a pesquisa continua. Entre as elucidações a serem buscadas, conforme o geólogo, está o formato do vulcão e se existiam outros do tipo na região.





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