Texto em homenagem a semana da pátria, escrito pela aluna Karla Fernanda Fontana do 9º ano do Colégio Gabriela Mistral, proposto pelo professor de História Jorge Andres R. Berrios.
Apesar da importância social que o processo de independência possui, este foi um evento de participação exclusiva da elite, sem participação popular, de uma aparência personificada e, algumas vezes, romantizada. A obra “O grito do Ipiranga”, de Pedro Américo, retifica e embeleza a Independência como um movimento em que ambas as partes, elite e plebe colonial, unem-se a favor de sua pátria e criam um sentimento de nacionalismo muito forte, algo totalmente fora do contexto do que acontecia na época (dificilmente nordestinos e sulistas compartilhariam de um mesmo sentimento nacionalista). Indiscutivelmente, a data de sete de setembro não exerce sobre os brasileiros de hoje o valor ético e cultural que é presente na construção simbólica do termo “pátria amada, Brasil”, que é cantado por nós desde a criação do Hino Nacional em 1831.
Relativamente, somos principiantes em importar-nos com essa ideia de liberdade, porque ela nos foi decretada “independência” no vocabulário de um brasileiro em 1822, sendo vista não como um símbolo de conquista ou união de uma nação inteira, mas nada muito além de uma mera mudança na política.
Essa autonomia política em pouco mudou a sociedade e economia da época. As massas populares não se mobilizaram ou desenvolveram um sentimento patriótico, como é retratado por Pedro Américo. Ocorreu, de fato, uma decadência de espírito nacionalista. Cem anos após a inconfidência mineira e a conjuração baiana, as revoltas pela emancipação, ocorre um período em que os brasileiros, talvez, não pudessem se mostrar menos brasileiros.
Independência, hoje, no Brasil, é nome de avenida, clube de futebol, loja comercial: tornou-se bonito ampliarmos nossa admiração por termos “conquistado” a nossa independência, saudação que só fazemos quando somos lembrados de que houve um tempo em que não era assim. Amor à Pátria, arrepio diante do Hino Nacional, “ou ficar a Pátria Livre ou morrer pelo Brasil” são apenas palavras nos grandes hinos cívicos que tentam exaltar supostas lutas no passado.
A falta de percepção sobre fatos históricos do nosso país impede reflexões que podem mudar o modo como enxergamos a própria realidade. Toda comemoração de algum marco ou acontecimento tem importância desde que estimule uma reflexão crítica e que coloque os fatos sob um viés histórico. Não comemorar apenas por comemorar, mas sempre levantar questionamentos. É preciso ter uma leitura crítica desses eventos e do que eles representam, pois, cada grupo, em cada época, cria sua versão dos fatos. Talvez, a melhor coisa a se aprender nessa semana seja o real significado de um evento que, hoje em dia, é lembrado apenas como conteúdo de uma prova. Quiçá seja o momento de passar a exercer nossa cidadania, construindo um Brasil do qual as gerações futuras se orgulhem, tornando-nos soberanos não apenas sobre este grande território, mas também em nossas consciências.