No dia "D" da oposição ao regime Nicolás Maduro para recebimento de doações de alimentos e medicamentos do exterior, centenas de venezuelanos protestaram neste sábado (23) nas regiões de fronteira com Brasil e Colômbia. Os manifestantes reivindicam que o governo de Caracas autorize o ingresso de caminhões com ajuda humanitária para atender cidadãos venezuelanos afetados pela crise econômica e política do país sul-americano.
Os protestos ocorrem após o fechamento das fronteiras da Venezuela com Brasil e Colômbia por ordem do presidente Nicolás Maduro.
Na área de fronteira com a Colômbia, houve conflito entre manifestantes e integrantes das forças de segurança venezuelanas. Em meio ao protesto, venezuelanos atiraram pedras contra os policiais, que revidaram com gás lacrimogêneo. Ônibus e roupas foram queimados nos protestos. Treze pessoas ficaram feridas.
Autoproclamado presidente interino da Venezuela, o líder oposicionista Juan Guaidó partiu do município colombiano de Cúcuta, no final da manhã deste sábado, em um comboio com mantimentos e remédiosem direção a Ureña, município venezuelano que fica na fronteira com a Colômbia. Guaidó pretente furar o bloqueio das forças de segurança do regime Maduro.
Em um pronunciamento em Cúcuta, o líder da oposição exigiu que o governo venezuelano autorize o ingresso no país das doações estrangeiras.
Em Roraima, o chanceler brasileiro Ernesto Araújo fez um apelo neste sábado para que as forças de segurança da Venezuela abram as fronteiras com o Brasil para permitir o ingresso de caminhões com alimentos e medicamentos doados pelos governos brasileiro e norte-americano para cidadãos venezuelanos.
O presidente da Colômbia, Iván Duque, também defendeu neste sábado que Caracas aceite ajuda externa.
Em Pacaraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela, um grupo de venezuelanos exigiu de forma pacífica nas ruas do município de Roraima que o país vizinho aceite a ajuda humanitária enviada pelos governos brasileiro e norte-americano. Pacaraima é uma das principais portas de entrada de venezuelanos no território brasileiro.
"Deixem passar a ajuda humanitária", gritavam os manifestantes aos soldados da força de segurança venezuelana.
A polícia e o exército não divulgaram uma estimativa de quantas pessoas participaram do protesto.
Dois caminhões com ajuda humanitária brasileira e norte-americana chegaram a Pacaraima neste sábado vindos de Boa Vista. Os veículos de carga ficaram estacionados na linha de fronteira do lado venezuelano, a poucos metros do território brasileiro, distantes da barreira militar imposta pelo regime de Maduro para impedir a circulação entre os dois países.
Ao se aproximar da fronteira entre Brasil e Venezuela, os caminhões com ajuda humanitária receberam uma espécia de cordão humano para proteger os mantimentos.
A embaixadora da oposição venezuelana no Brasil, Maria Teresa Belandria, pretende que os dois caminhões cruzem a fronteira com a ajuda dos manifestantes.
Ajuda clandestina
Enquanto há protestos para que comida e medicamentos cheguem à Venezuela, cidadãos do país vizinho atravessam a fronteira através de rotas alternativas, conhecidas como trincheiras. A pé, eles desafiam a presença de militares venezuelanos armados que fazem a guarda da linha de fronteira.
Ao G1, o segurança Juancarlo Castro, de 49 anos, relatou confrontos entre civis e militares em Santa Elena. Ele chegou a Pacaraima por volta das 19h30 da última sexta-feira (22) por rotas clandestinas.
“No lado venezuelano não tem comida, não tem remédios, não tem nada. Então, hoje viemos para acabar com isso. Não tenho medo dos guardas”, completou o segurança.
A brasileira Juliana dos Santos, 47 anos, mora em Santa Elena e disse estar disposta a atravessar a fronteira em busca de ajuda mesmo com a resistência da guarda. "Decidi vir ajudar porque meus filhos são venezuelanos e me dói muito tudo isso", enfatizou.
Fronteira fechada
Nicolas Maduro determinou o fechamento das fronteiras com Brasil e Colômbia para tentar barrar a ajuda humanitária oferecida pelos EUA e por países vizinhos, incluindo o Brasil, após pedido do autoproclamado presidente interino Juan Guaidó. O líder chavista vê a oferta dessa ajuda como uma interferência externa na política da Venezuela.
No anúncio, feito de Caracas, o líder chavista afirmou que a passagem entre os países ficaria “fechada total e absolutamente até novo aviso”.
O fechamento ocorre onde seria um dos pontos de coleta dos carregamentos de comida, remédio e itens de higiene básica enviados à população venezuelana. O porta-voz do presidente Jair Bolsonaro (PSL), Otávio Rêgo Barros, disse que a ajuda humanitária está mantida.
Em entrevista coletiva em Pacaraima nesta manhã, segundo o chanceler Ernesto Araújo, não há previsão de que a ajuda seja disponibilizada em território brasileiro para que venezuelanos possam buscá-la.
Ele fez um apelo para que as forças de segurança abram as fronteiras para o Brasil. "Nosso compromisso é estar aqui para acompanhar a chegada de ajuda e fazer, mais uma vez, esse apelo que estamos fazendo pela abertura da fronteira e pelo ingresso da ajuda humanitária", disse.
Confronto em Kumarakapay
Uma pessoa morreu e outras ficaram feridas em Kumarakapay, na Venezuela, em um confronto entre indígenas e militares venezuelanos na última sexta-feira (22). A informação foi dada por líderes indígenas e parentes de vítimas.
O local do incidente fica a cerca de 70 km de Santa Elena de Uairén, na fronteira com o Brasil. Apesar do bloqueio na fronteira, por volta das 10h de sexta-feira (pelo horário de Brasília), os guardas liberaram a passagem para o lado brasileiro de duas ambulâncias venezuelanas com pessoas feridas no incidente.
Os indígenas foram levados ao Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, a 215 km da fronteira.
Fronteira com a Colômbia
Tropas venezuelanas ocupam, na manhã deste sábado (23), a Ponte Simón Bolívar, fronteira entre a Venezuela e a Colômbia que permanece fechada.
Segundo a Reuters, os militares estão lançando gás lacrimogêneo para dispersar pessoas tentando cruzar a fronteira. Por outro lado, ainda de acordo com a agência, três soldados venezuelanos desertaram postos na fronteira.
No Twitter, a Telesur, canal de televisão ligado ao governo local, publicou que “o anúncio do fechamento temporário da fronteira entre a Colômbia e a Venezuela se dá por conta de ameaças do governo da Colômbia à nação sul-americana. Assim amanhece a ponte internacional “Simón Bolívar”.
A repórter Madelein Garcia, do mesmo veículo, escreveu: “Às 7h tudo está calmo em San Antonio del Táchira, como foi anunciado pela vice-presidente Delcy Rodríguez. As pontes internacionais estão fechadas devido às ameaças sérias e ilegais da Colômbia contra a paz e soberania."
Já segundo uma correspondente do jornal espanhol El País na Venezuela, tuitou que “cerca de 100 militares da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) tomaram San Antonio del Táchira. Não há nem mesmo uma passagem para pedestres até a fronteira. Algumas pessoas que iam para Cúcuta pensaram em atravessar as trilhas antes do fechamento”.